A Poesia Visual foi sempre mais do que ponte entre palavra e imagem. Sua linhagem é, sem dúvida, concretista, porque tem o olho no universo dos signos mais secos, e é tão enxuta quanto a Concreta, quando cola formas e significados. Mesmo dentro da linhagem, a diferença maior é a mistura. Desde o início, a Poesia Visual garantiu trânsito livre por códigos visuais, verbais e sonoros e incluiu misturas de todo tipo, em termos de meios e suportes. Hoje em dia posso pensar que ela inclui também ações performáticas, ambientes e até arquiteturas, pois seu território se mantém sadiamente multidisciplinar, com fronteiras cada vez mais fluidas. Certamente um terreno avesso aos especialistas das técnicas tradicionais da imagem e aos poetas só do verso: habitá-lo era, em primeiro lugar, assumir o hibridismo das linguagens. Desde logo eu mesma visitei com constância este território, para instalar meu repertório em seus limites mais abertos.

No Brasil dos anos 70, a Poesia Visual foi bastante marginal e publicada principalmente em revistas produzidas e gerenciadas pelos próprios autores, logo distribuídas e trocadas, quase de mão-em-mão. As edições eram forçosamente pequenas, pelo custo e dificuldades de difusão, mas também porque os exemplares estavam destinados aos pares, e esses nem eram tantos. Julio Plaza achava que 600 exemplares deveria ser o limite máximo dessas revistas e também das publicações congêneres, porque este seria exatamente o tamanho do público interessado, naqueles anos de fronteiras endurecidas pela ditadura militar. Mas, em seguida, ficamos convencidos de que elas também podiam funcionar como “janelas”, cujo material de intercâmbio internacional era acolhido e divulgado por arquivos e distribuidoras organizadas por artistas e autores, em outros países: a Poesia Visual podia ir para o mundo, o mundo “global”, antes das redes digitais que agora facilitam – mas também pasteurizam – a nossa comunicação.

Se naquele período a Poesia Visual promovia suas próprias apresentações e era totalmente avessa a galerias, só convocada por raras instituições e museus (salvo honrosas exceções como, no Brasil, o MAC dos tempos do Walter Zanini, a Franklin Furnace de NY e a Other Books and So de Amsterdam), o que faz agora exposta em galeria de arte? O que mudou?

Mudou tudo – menos mal. Mudou a arte, mas, muito mais, mudaram as galerias, mudaram os museus e também o reconhecimento devido. Já faz algum tempo que instituições, principalmente estrangeiras, começaram a reconhecer que o panorama artístico, dos anos 70 ao presente, não se explicaria suficientemente sem esta vertente poética e multimídia, que antes andava mais subterrânea. E que era mesmo preciso criar novos modos de arquivar, colecionar, mostrar e celebrar esta parte, antes até escamoteada, da história recente, até porque ela costura ou ancora várias formas das poéticas do presente. Na esteira da verdadeira varredura promovida internacionalmente por museus e colecionadores, para entender e promover o background dessas manifestações e suas derivações atuais, porque algumas galerias, entre as mais atentas, não se situariam nesta mesma constelação de intenções?

Regina Silveira – fevereiro de 2012


 

Participantes

André Vallias Arnaldo Antunes Augusto de Campos Décio Pignatari Gastão Debreix Gil Jorge João Bandeira Júlio Mendonça Julio Plaza • Lenora de Barros Omar Khouri Paulo Miranda Ronaldo Azeredo Sonia Fontanezi Tadeu Jungle Villari Herrmann Walter Silveira Zéluiz Valero

 


 

Esta exposição foi pensada tendo em mira o veio da produção poética brasileira que estabelece estreitas relações com os códigos da visualidade e outros, e congrega, portanto, poetas que operam a partir do verbal, dialogando intensamente com linguagens várias. Os trabalhos, alguns já consagrados e outros tantos ainda inéditos, agora adentram o âmbito da galeria o que, entre nós, acontece de raro em raro. Do objeto único à série, a Poesia é apresentada à maneira dos trabalhos de Artes Plásticas, já que valorizam grandemente a visualidade – da escrita à cor e outros cometimentos gráficos. Poesia, sempre.

Omar Khouri e Paulo Miranda – curadores

 


 

Exposição na Galeria Virgilio SP

11 de Abril a 5 de Maio de 2012

Rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, 426
São Paulo – SP   Brasil